domingo, 26 de julho de 2015

ESTADO LAICO: ESTRADA DE MÃO DUPLA


Entrou em vigor no estado do Rio de Janeiro uma lei que pune a homofobia. Um restaurante que tratar mal um casal de lésbicas ou um hotel que não quiser receber dois gays em lua de mel, por exemplo, pode ser denunciado por quem se sentiu vítima de discriminação. Algumas pessoas se queixam que essa lei não vale para as igrejas. Mas não pode valer mesmo, pois o Estado é laico!
Pensem o seguinte: a Igreja Católica diz que o casamento é indissolúvel. Assim, ao menos que você fique viúvo(a), você não poderá casar duas vezes na Igreja Católica. Mas você pode casar quantas vezes quiser no civil. -- Pena que só em 1977 conquistamos esse direito, pois a Igreja aterrorizava o eleitorado dizendo que os políticos que defendiam o direito ao divórcio queriam destruir a família, e o Parlamento brasileiro costuma se cagar de medo diante das pressões das igrejas. -- Pois é: graças à separação entre Igreja e Estado a lei do divórcio, que lhe permite casar quantas vezes quiser, foi possível.
Por outro lado, quando Ariano Suassuna morreu, Dilma foi ao velório, decretou luto oficial, lamentou publicamente essa grande perda. Mas ela não podia determinar que o escritor, católico declarado, fosse sepultado dentro de uma igreja, pois esse é um privilégio que a Igreja Católica reserva somente aos bispos, cardeais, papas e "servos de Deus" (pessoas que têm um processo no Vaticano com vistas a serem declarados beatos ou santos). A laicidade do Estado não permite isso à presidenta. Já no Reino Unido, Churchill só não teve um túmulo dentro da Abadia de Westminster porque a família comunicou à rainha Elisabeth, chefe da Igreja Anglicana, que preferia sepultar o ex-primeiro ministro junto aos pais dele. E mesmo assim a soberana fixou uma placa em homenagem a ele no respectivo templo.
Se defendemos o Estado laico, não temos que ditar regras sobre o que as igrejas considerarão pecado ou não. Devemos interferir somente em casos de vida ou morte de incapazes, tipo: garantir uma transfusão de sangue a um menor de idade. Se a pessoa é homossexual e acredita em Deus, o melhor é que não frequente igrejas que dizem que a homossexualidade é pecado. Há várias igrejas que celebram casamentos entre pessoas do mesmo sexo e dizem que toda maneira de amor vale a pena. Há igrejas para todos os gostos. Como eu sempre digo: quem gosta de lasanha não frequenta o Mac Donald's.

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"QUERO MEU DIREITO DE SER ANORMAL!"



"QUERO MEU DIREITO DE SER ANORMAL!"

A frase é do escritor João Silvério Trevisan, gay assumido, numa entrevista para a Revista Caros Amigos, há mais de 15 anos.

Adoro essa frase.
Sim, a homossexualidade é natural, mas não é normal, porque as normas construídas pelas religiões e pelos Estados tem sido encarcerar ou matar essa gente ou fazer de conta que não existem. E agora alguns Estados deixam as religiões para trás para encarar a realidade.
Da mesma forma, ser ateu não é normal, porque logo que nascemos nos imergem numa cultura profundamente religiosa. Os Estados modernos, a partir do momento em que se divorciaram da religião, abriram garantias que permitem aos seus cidadãos não viverem de acordo com as normas religiosas. Assim, Estados legalizaram o direito à livre consciência (crer ou não crer - eis a questão), ao aborto, ao divórcio, ao casamento entre iguais etc.

Querer dar às igrejas o poder de questionar o Supremo é apunhalar a laicidade do Estado, determinada no artigo 19 da Constituição Federal, e o direito à livre consciência, artigo 5, inciso VI.
Não, não me venham com esse papo de que querem salvar minha alma. Eu não acredito em alma e, se acreditasse, não quereria ir para um Céu cheio de gente asquerosa como vocês, fundamentalistas.


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