quinta-feira, 27 de agosto de 2015

RACIOCINANDO SOBRE O DILÚVIO




Pintura a óleo do dilúvio bíblico (The Deluge) por Francis Danby (1793-1861).

O famoso mito do dilúvio alega ter havido uma inundação planetária, que teria quase extinto a humanidade e a maioria das espécies de seres vivos, com um heroi humano destinado a salvar o mundo. Normalmente é um castigo enviado por um ou vários deuses para reduzir a população mundial e eliminar os que não seguiam um ou outro deus. Atualmente, a maioria das pessoas conhece a mitologia da dilúvio através da Bíblia, livro sagrado das religiões cristãs. No entanto, essa mitologia remete à religião suméria, a pelo menos 1,6 mil anos antes de surgir o cristianismo. O dilúvio é descrito nas primeiras obras de literatura criadas pela humanidade, logo que surgiram as primeiras cidades do mundo, do império Sumério, na região da Mesopotâmia, onde hoje fica o Iraque. Aparece no mito da criação suméria, nas histórias épicas de Gilgamesh (o primeiro super-heroi da história escrita), Ziusudra e Atrahasis. Antes mesmo de ser incluso na Torah, o Velho Testamento da Bíblia, que serve de base para a religião do judaísmo, o mito já havia sido incorporado por diversas civilizações posteriores à Suméria. É reproduzido nos livros religiosos hindus das Puranas, Deucalion na mitologia grega, nas tradições K´iche´, dos maias e em muitas outras culturas religiosas pelo mundo.

As características de mito e não fato histórico são evidentes ao estudar cada um desses contos literários étnicos e compará-los com o conhecimento da história, geologia, paleontologia e genética. Pela Suméria ter sido a primeira civilização humana, com a Babilônia e outras das primeiras cidades do mundo, o dilúvio parece ter sido um aspecto da cultura suméria que permaneceu vivo no inconsciente coletivo através da tradição oral de contos na medida em que a humanidade se espalhava pelo planeta. Mas, como em qualquer brincadeira popular de “telefone sem fio”, quando o referencial original (o conto escrito) deixa de ser a referência, a transmissão oral do conto perde qualidade e sofre distorções. Quando novas cidades começaram a se estabelecer longe da Mesopotâmia, levaram consigo parte da cultura suméria original, modificada conforme peculiaridades de cada nova sociedade; como foi o caso com o mito do dilúvio. Nas estórias, o dilúvio é causado por chuvas, enchente fluvial ou avanço do mar. Em cada uma dessas versões posteriores à original Suméria, há variações culturais, geográficas e de época, que tornam todas as versões do mito do dilúvio inconciliáveis. E não há nenhuma razão lógica para considerar a versão bíblica do dilúvio mais realista que as outras versões culturais. Nem mesmo a versão original suméria. Mas avancemos para evidências mais concretas que desacreditam o dilúvio.

A geologia é atualmente uma ciência muito bem desenvolvida, capaz de reconstruir o passado do Planeta Terra, indicando como se formaram as camadas de solo, montanhas, como variou o nível do mar e eventos de secas e inundações. Há claras e fortes evidências geológicas, que podem ser verificadas por qualquer um que se dê ao trabalho de estudar o tema, de que NUNCA na história da civilização humana o planeta foi completamente inundado. Obviamente houve muitas enchentes, tsunamis, variações do nível do mar, mas sempre localizadas, nunca em todo o planeta ao mesmo tempo. Cada sociedade exposta a alguma dessas formas de alagamento, se viu “sob a ação de Deus, ou de deuses, em que acreditavam” e pensou estar vivendo um fenômeno mundial, afinal sua noção de mundo era ainda mais restrita à área geográfica onde viviam.

Seja Noé no dilúvio bíblico ou o Rei Ziusudra no dilúvio sumério, os mitos contam que um homem e sua família construíram uma embarcação e reuniram um casal de cada espécie animal para salvá-los da extinção. Essa é a parte mais absurda do mito e facilmente destruída pela lógica. Há aproximadamente 8,7 milhões de espécies de seres vivos no planeta; assim, chega a ser hilário imaginar uma família cuidando de 17,4 milhões de indivíduos em uma embarcação durante um ano. Aliás, se o número total de espécies é desconhecido pela ciência hoje, imagine por Noé (ou Ziusudra) e sua família naquela época. Muitas dessas espécies são carnívoras, predadoras, outras são vetores de doenças, algumas dependem de grandes estoques de alimentos só encontrados onde elas vivem, outras requerem condições ambientais muito específicas (temperatura, pressão, salinidade, etc). A arca de Noé teria de ser o maior laboratório e viveiro flutuante jamais concebido, e isto há uns 4 mil anos atrás. Inevitavelmente, muitas espécies teriam sido extintas, afinal como manter alimentado e comportado um casal de leões que consome 10 kg de carne por dia numa arca cheia de presas? Como salvar as inúmeras espécies de microrganismos invisíveis a olho nu e essenciais às outras formas de vida da Terra? Como reunir na arca construída no Oriente Médio animais de áreas isoladas como onças do Brasil, bisões do Canadá, elefantes da África, ursos polares e cangurus da Austrália? Quem entende de genética sabe que a redução da variabilidade genética decorrente de um casal por espécie geralmente leva à extinção da espécie. Os sinais de tal redução da variabilidade genética em todas as espécies seria facilmente reconhecíveis pela biologia molecular e eles não existem. A ciência consegue identificar vários eventos de extinção em massa de espécies no passado e estimar suas causas. Nenhum desses eventos de extinção combinam com as datas das mitologias do dilúvio e como dito antes, há claros sinais de nunca ter havido uma inundação global na história humana.

Princípios de engenharia naval mostram que própria construção de uma embarcação tão grande não é resistente para a navegação oceânica sem reforços em ferro, tecnologia não disponível a milhares de anos. Mesmo os navios de madeira mais modernos e reforçados com ferro chegam até uns 100 m de comprimento, absurdamente pequeno para caber tantos casais de animais. A suposta arca de Noé tinha 135 m de pura madeira, uma impossibilidade de engenharia. É mais do que óbvio que não cabem nem os casais de animais de apenas um país em uma arca de 135 m. Há alguns estudos científicos que detalham as inúmeras impossibilidades desse mito em longos textos e explicações. Como por exemplo, a velocidade incrível necessária para colocar milhões de animais a bordo em apenas 7 dias, uma taxa de vários animais embarcados por segundo. No entanto, se o leitor não se convenceu com estes argumentos, não o fará com os mais detalhados.

Provavelmente a maioria dos falantes de Português (no Brasil, Portugal, alguns países da África, etc) crê na versão bíblica do dilúvio. Advém deste fato que a maioria desses nunca leu a versão bíblica do dilúvio, muito menos as evidências científicas contrárias a esse mito. Tais indivíduos foram ensinados por seus pais e outras pessoas amadas a crer nesse mito e nunca questioná-lo e por respeito aos seus parentes e temor a Deus e assim o fazem. Portanto, os motivos para acreditar neste e em outros mitos são absolutamente compreensíveis e justos, assim como são os meus de escrever tal texto para informar as pessoas. Afinal, rotineiramente somos expostos à reafirmação dos mitos religiosos das sociedades em que vivemos, mas raramente somos expostos aos estudos sobre esses assuntos.

As mitologias do dilúvio possuem grande valor literário, mas nenhum valor histórico. A Bíblia, a Ziusudra, as Puranas e todos os livros religiosos que retratam o mito do dilúvio dizem muito a respeito das sociedades e dos indivíduos que os escreveram, mas nada dizem sobre o divino. Crer no dilúvio em qualquer uma das suas muitas versões religiosas é negar a construção do conhecimento em prol da tradição ignorante. Crer menos e estudar mais é a melhor forma de libertar-se daqueles que querem controlar sua vida controlando suas crenças. E eu não estou falando dos nossos pais, mas sim dos líderes religiosos que gozam de prestígio social, poder e dinheiro para defenderem religiões que enganam e dominam as mentes das pessoas através desse tipo de mito.

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Bruno Martini

Oceanógrafo e Mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos pela UFPR. Colaborador da Astrobiology Magazine e Secretário Geral do Núcleo de Pesquisa de Ciências - NUPESC.

ESTADO LAICO NÃO É ESTADO ATEU

O laicismo é uma doutrina filosófica que defende a neutralidade do Estado em matéria religiosa. Os valores evidentes do laicismo são a liberdade de consciência e a origem humana das leis do Estado. Por princípio, a laicidade opõe-se ao clericalismo. A laicidade é, portanto, uma condição do Estado Democrático de Direito e não exige nenhuma interpretação, ou seja, não deve ser entendida de acordo com as características históricas e culturais da nação sob nenhum pretexto. Qualquer tentativa de distorcer o conceito de laicismo caracteriza a má-fé dos que fazem qualquer coisa pra manter os privilégios da religião junto ao Estado. Vale ressaltar que, embora justifiquem sua conduta alegando que o Estado deve respeitar os valores religiosos da sociedade, na prática, os únicos interesses que representam são os do próprio clero, interesses esses que a sociedade deve forçosamente respeitar. Quando um jurista diz que "Estado Laico não é Estado Ateu" e ministros, desembargadores e parlamentares vão repetindo como um mantra, a expressão passa a representar o sinônimo de laicidade, dando azo ao proselitismo religioso, especificamente cristão, em todas as instâncias do Estado e até mesmo dentro do Congresso Nacional. Os inescrupulosos fazem isso porque o deus que cultuam é reverenciado já no preâmbulo da Carta Magna, haja vista que o deus com D maiúsculo é, sem dúvida, o deus judaico-cristão e isso só pode ser negado com uma dose muito grande de desonestidade da parte daqueles que dizem que a Constituição faz menção a um deus "genérico". (desses que podem ser encontrados em qualquer drogaria). Assim, maliciosamente, o constituinte tornou o deus judaico-cristão um deus constitucional colocando seus representantes, ou seja, o clero, como um poder independente, acima de tudo, até mesmo do Estado. Será tão difícil assim admitir que colocar o Estado Laico sob a proteção de um deus é contraditório, irreconciliável e estúpido? Sim. É estúpido. Mas ninguém tem coragem de apontar uma estupidez quando esta defende o deus judaico-cristão. Assim, o Estado vai caminhando, tentando se defender das ofensivas dos religiosos promovendo audiências públicas, congressos e cafés da tarde para discutir os problemas que não existiriam se não fosse pela estupidez do constituinte em atender exigências de um clero cujo autoritarismo o eleva ao supremo poder da Nação.

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Silvia Reis

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O VELHO TESTAMENTO E A BANCADA EVANGÉLICA


LEVÍTICO 18: 22: "Não dormirás com um homem como se dorme com mulher: é uma abominação."

BANCADA EVANGÉLICA: Céus e Terra passarão mas a palavra de Deus não passará.

LEVÍTICO 25: 35 a 38: "Se o irmão que vive a teu lado cair na miséria e estiver sem recursos, sustenta-o como se fosse um estrangeiro ou um agregado, para que viva contigo. Dele não receberás nem juros nem lucro. Teme a Deus para que teu irmão possa viver contigo. Não lhe emprestes dinheiro a juros nem víveres por usura. Eu sou o SENHOR vosso Deus, que vos fez sair do Egito para vos dar a terra de Canaã, a fim de ser o vosso Deus."

BANCADA EVANGÉLICA: Resgatados por Cristo, não estamos mais sob o jugo da lei de Moisés.

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Edson Amaro

sábado, 8 de agosto de 2015

O Ministério da Saúde não adverte a opinião pública



Opinião pública, de certo modo, é a expressão da sociedade que legitima conceitos éticos e morais que se tornam premissas para o debate público.
Um método comum usado para conhecer a opinião pública é a pesquisa individual onde se oferece alguns itens entre os quais o pesquisador deve escolher um que represente sua opinião. Fácil supor que as proposições apresentadas não representam a realidade das opiniões individuais dos cidadãos visto que não se encontrará todas as opiniões possíveis entre os itens relacionados. Contudo, a opinião da maioria do pequeno grupo entrevistado, vai representar a opinião da grande maioria da população.
O resultado da pesquisa, isto é, o item vencedor, será um resumo poderoso do pensamento corrente para a argumentação do indivíduo na defesa de uma ideia. Um círculo vicioso que se alimenta a si mesmo ad infinitum.
Em outras palavras, o indivíduo adquire um senso moral modelado pela opinião pública e forma sua opinião baseado em boatos que circulam alegremente na polifonia social, no grande berrante midiático repetindo sem cessar a opinião que todos devem ter a respeito de um assunto sobre o qual a grande maioria não sabe absolutamente nada.
Essa espécie de sugestão hipnótica vai unificar o pensamento da população reduzindo os conflitos interpessoais e garantindo a paz social. Teoricamente.
Obviamente aquele indivíduo não alcançado pela “programação” estará destinado à marginalidade e será acusado de anarquista ou reacionário por não concordar com a maioria, portanto, um inimigo da paz. Enfim, esse é só um problema isolado que não deve abalar a tranquilidade da maioria unificada.
É, portanto, baseadas na opinião pública que muitas pessoas emitem suas opiniões e quanto mais apaixonadas ficam pela ideia que defendem, tanto mais trabalharão no sentido de divulgá-la. É a tenacidade desses “publicitários de plantão” que os leva a dizer, entre outros absurdos, que se a homeopatia não funciona para uma pessoa, certamente tem algo errado com aquela pessoa e não com a homeopatia.
Para premiar a sociedade por seu esforço para perpetuar os mitos que a amansa, seus patrocinadores instituem o Dia Nacional da Homeopatia, numa campanha em que o Ministério da Saúde dá sua inestimável contribuição. Os anúncios lançados pelo órgão público traduzem a ideia da natureza suave do medicamento e, desse modo, corrobora o desejo de uma vida mais saudável, termo este já consagrado pela opinião pública como uma meta a ser alcançada por todos.
Um excelente meio de demonstrar o cuidado do Ministério da Saúde para atender os anseios da população.
Imensamente grata pelo gesto carinhoso e enlevada pelo romantismo que envolve a publicidade, a opinião pública não ousará perceber que promover um remédio cuja eficácia jamais foi comprovada pela Medicina é um ato de má-fé; de uma imoralidade repugnante.
O investimento do Ministério da Saúde na divulgação da pseudociência não é só um gesto ofensivo à comunidade científica, mas prejudicial a todos os seguimentos da sociedade, pois colabora para que a verdade permaneça refém dos fazedores de opinião alheia.

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Silvia Reis

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

DUAS REFLEXÕES SOBRE O CASO DO HOMEM MORTO NA SUPERVIA


1. Ele tinha saído havia pouco tempo do sistema carcerário. Esse sistema que consome os dias limitados dos seres humanos sob o pretexto de puni-los, mas não os prepara para voltarem ao convívio social. Saem marcados como Jean Valjean, o protagonista de "Os Miseráveis", condenados a voltarem à cadeia por não estarem marcados com um estigma que faz com que a sociedade os rejeite. E Jean Valjean só não voltou para a cadeia porque houve alguém que acreditou nele e lhe deu condições de recomeçar a vida.
Para não roubar, para não nos ameaçar com um revólver ou uma navalha, aquele negro -- vamos dizer bem alto: "negro!", pois essa é a cor da maioria dos que entram no sistema carcerário -- vendia doces. E tentando viver sem ameaçar nossas vidas, perdeu a vida dele.

2. Nem todas as ordens devem ser cumpridas. Dizer que recebeu ordem para passar por cima do cadáver não significa que se deve fazê-lo. Quando soube disso, lembrei do escândalo nacional que aconteceu quando aquele pastor chutou a imagem da padroeira do Brasil. Igual escândalo deveria ter acontecido agora, pois um trem passar por cima de um cadáver, é mais do que um insulto á fé católica: é um insulto a todas as crenças e um ato contra a civilização, pois a civilização começa quando os seres humanos começam a sepultar ritualisticamente seus mortos. O respeito aos cadáveres é uma marca que define o momento em que, inquestionavelmente, os símios se tornaram humanos e começaram a desenvolver uma organização social baseada em valores comuns.

Lembro aqui de Aracy, diplomata que depois veio a usar o sobrenome Rosa quando pôde casar-se com o famoso autor de "Grande Sertão: Veredas". Ela servia no consulado brasileiro na Alemanha e Getúlio dera ordens para que não fossem concedidos vistos de entrada para os judeus. Aracy fraudou documentos, omitindo a condição de judeus para quem queria emigrar para o Brasil, ou enganava o cônsul misturando os vistos dos judeus no meio de papeis que o cônsul assinava sem ler. Por causa disso, o Estado de Israel a considera uma heroína e há uma árvore com seu nome hoje no Bosque dos Justos.
Henry Thoureau, filósofo americano autor de "A Desobediência Civil" diz: "Antes de sermos súditos somos homens". Antes de sermos funcionários, devemos ser humanos. E nem toda ordem deve ser obedecida.

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Edson Amaro

HÍBRIDOS


Como cresci na cidade, sem contato com bichos, ao ver suas imagens e conhecer seus nomes, eu os agrupava mentalmente conforme as semelhanças.

Pato, ganso, cisne;
cavalo, burro;
boi, búfalo;
camelo, dromedário;
leão, tigre, onça;
chimpanzé, gorila, orangotango;
etc.

Acho que esse exercício mental muitas crianças também fazem ou podem ser estimuladas a fazer facilmente.
Mas se a criança quiser colocar o homem no meio dos símios, o bicho pega.
Não morando em fazenda, eu imaginava se era possível cruzar os bichos parecidos. Um ganso com uma pata, por exemplo, e ver o que saía.
No livro "Um Chapéu Para Viagem", livro de memórias de Zélia Gattai, ela conta que seu marido, Jorge Amado, então deputado eleito por São Paulo, comprara um sítio em Duque de Caxias, estado do Rio, e se divertia realizando esse meu desejo de criança: gastava um dinheirão comprando bichos diferentes, fazia-os cruzar e fotografava os filhotes que nasciam. Era um biólogo amador e curioso.
O capítulo que Darwin dedicou aos híbridos é um dos mais interessantes de "A Origem das Espécies".
Interessante saber que Darwin tinha estudado Teologia. E certamente deveria saber que a Bíblia proíbe botar bichos de espécies diferentes para copularem. LEVÍTICO 19: 19: "Não acasalarás animais de espécie diferente." (Tradução da CNBB) Será que Moisés fez essa proibição porque já suspeitava que a semelhança entre os bichos não era mera coincidência e quisesse fechar o caminho para os curiosos, retardando, por séculos, uma teoria evolutiva?

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Edson Amaro

TREM ATROPELA FRASE DE DOSTOIÉVSKI


“Se Deus não existe, tudo é permitido”. Essa é a frase mais famosa do escritor russo Fiódor Dostoiévski. Certa vez, Ariano Suassuna, entrevistado pelo jornalista Roberto d’Ávila, confessou que se declarava ateu na juventude, até conhecer a obra do romancista russo. Ele então passou a aceitar a existência de Deus por ver na religiosidade a raiz de toda a ética e reconheceu, assim, a necessidade da fé em uma sociedade.

Os fatos mostram o contrário. Uma sociedade majoritariamente religiosa não é necessariamente uma sociedade mais ética. Antes mesmo que Dostoiévski formulasse sua famosa máxima, ela já era negada – pasmem! – pela própria Bíblia. O profeta Isaías, por exemplo, várias vezes desqualifica a religiosidade de seus conterrâneos judeus, por ver que, apesar da estrita observância dos ritos religiosos, a vida em sociedade ia de mal a pior: “Parem de trazer ofertas inúteis. O incenso é coisa nojenta para mim; luas novas, sábados, assembleias... não suporto injustiça junto com solenidade. Eu detesto suas luas novas e solenidades. Para mim se tornaram um peso que eu não suporto mais. Quando vocês erguem para mim as mãos, eu desvio o meu olhar; ainda que multipliquem as orações, eu não as escutarei. As mãos de vocês estão cheias de sangue.” (Isaías cap. 1, 13 a 15, edição Pastoral.)

Neste país tão religioso chamado Brasil, no ano de 1994, o pastor Von Helde, da Igreja Universal do Reino de Deus, no dia mesmo da padroeira do Brasil, 12 de outubro, chutou uma imagem de Aparecida, houve uma comoção nacional. Houve mesmo pressão para que o então presidente Fernando Henrique Cardoso cassasse a concessão da Rede Record de Televisão, emissora de propriedade do bispo Edir Macedo, líder da Universal, que veiculara o programa.

Na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, em 2014, uma travesti se mostrou crucificada para protestar contra o preconceito sofrido por travestis e transexuais no Brasil. Imediatamente, a mais do que corrupta bancada religiosa, que usa o nome de Cristo para explorar a fé e a ignorância do eleitorado e manter-se no Parlamento, clamou contra a “cristofobia” e exibiu imagens de diversos eventos ao redor do mundo para dizer que tais profanações e gestos de desrespeito a símbolos religiosos tinham todos acontecidos na mesma parada em São Paulo, simultaneamente ao protesto da atriz travesti.

Eis a comoção que acomete o povo brasileiro, tão religioso, quando alguém falta com o respeito (ou alguém que diz que um terceiro faltou com o respeito – foi o caso da travesti em questão, que é cristã – e lembremos que Cristo está muito longe de ser a única vítima de crucificação na História) a símbolos religiosos. Por outro lado, o que acontece quando seres humanos são desrespeitados?

Terça-feira, 28 de julho de 2014. Adilio Cabral, ex-presidiário, vendia doces para sobreviver. Ao contrário de tanta gente que volta a cometer crimes após sair do sistema carcerário e para lá retorna, ele buscava recomeçar a vida sem infringir as leis. Atravessou os trilhos de uma estação de trem porque, se usasse a passarela, teria sua mercadoria seria apreendida por aqueles que têm o papel de inibir a venda de doces nos veículos do transporte público. Foi atropelado. E um segundo trem passou por cima do corpo para que a viagem não fosse interrompida. Com a autorização de seus superiores da concessionário, a Supervia.

E, diante desse desrespeito a uma vida ceifada (estaria Adilio realmente morto quando o segundo trem passou por cima do seu corpo) e do vilipêndio de um cadáver, o que dizem os líderes religiosos e a bancada fundamentalista? Até o momento em que escrevo estas linhas, 5 de agosto, não ouvi nenhum pronunciamento dos autoproclamados representantes de Deus.

Esses mesmos advogados de Deus fazem um escarcéu quando alguém defende a evolução das espécies e esforçam-se para enfiar a Bíblia nas aulas de Ciências. Bem, essa mesma Bíblia que diz que o homem foi feito do barro e a mulher de uma costela do homem diz que o homem foi feito “imagem e semelhança de Deus”. A mesma Bíblia diz, em 1 João cap. 4, vs 20 que quem não ama o seu irmão a quem vê não pode amar a Deus, a quem não vê.

O fundamentalismo, expressão estreita e retrógrada da religião que corrói como um câncer a República brasileira e dissemina preconceito e intolerância entre a população, é rígido no cumprimento dos preceitos e rituais religiosos que semeiam separações entre os homens, mas, ao mesmo tempo em que é intransigente ao tentar desqualificar a Ciência, nada faz para promover a dignidade humana, ou seja, proclamar o homem como “imagem e semelhança de Deus” e repudiar todo e qualquer desrespeito à integridade da pessoa humana.

Voltaire, aquele grande herege, disse que o Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e o homem retribuiu da mesma forma. Diz o mesmo Voltaire que, se os cavalos tivessem um deus, ele teria a aparência de um cavalo. Isso porque quem imagina deuses só pode imaginá-los à sua semelhança.

Uma enquete feita pelo jornal O DIA revelou que 60% dos que opinaram acharam certa a decisão da empresa de autorizar que Abílio fosse atropelado pela segunda vez. Esses que apoiam a degradação da humanidade de um vendedor de balas são os mesmos que bradam contra a corrupção dos governantes e clamam pela volta de Cristo. Eis a evidência indiscutível de que não há relação alguma entre religiosidade e ética.

O progresso só é possível em sociedades que reconheçam a inegável e inegociável dignidade humana. Esse é o sentido mais profundo em se apresentar o homem como imagem e semelhança de Deus. Esse é o valor maior que deve pautar as ações humanas, existindo Deus ou não.

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Edson Amaro

terça-feira, 4 de agosto de 2015

As Evidências da Evolução [1] – O que os fósseis nos contam?


Desde que Charles Darwin publicou “A Origem das Espécies”, há um século e meio, a evolução é um fato conhecido e bem aceito pela esmagadora maioria da comunidade científica. Porém, por ignorância ou desonestidade, negadores da ciência argumentam que não existem evidências que a confirmem.

Este é o primeiro episódio de uma série onde descobriremos porque esta alegação é falsa. Vamos iniciar uma busca por estes indícios, procurando onde se encontram e porque eles são indicativos da ancestralidade comum de todos os seres vivos.

E neste capítulo, investigaremos aquelas que são as mais conhecidas evidências evolutivas, um registro do passado distante escrito nas pedras: os fósseis!

Tirem o pó dos seus sobretudos, peguem suas lupas e blocos de anotação, e vamos investigar onde se encontram AS EVIDÊNCIAS DA EVOLUÇÃO!


Com vocês, mais um vídeo do canal PAPO DE PRIMATA!

https://www.youtube.com/watch?v=u26g69AEiJ4


Trailer do Hangout d'ARCA