Tem se visto
com uma pequena frequência ululante alguns que estariam questionando os dados
do IPEA a respeito da amostragem de dados apresentada na última quinta feira
(27/3), que os dados não representariam os fatores envolvidos. Mas estes se
esquecem que eles também não estão analisando os dados em sua plenitude.
A pesquisa faz
uma análise das concepções do povo brasileiro em arquétipos conservadores que
sempre se referiam aos costumes patriarcais, com perguntas do tipo "Os
homens devem ser a cabeça do lar", "Uma mulher só se sente realizada
quando tem filhos" ou ainda "Incomoda ver dois homens, ou duas
mulheres, se beijando na boca em público", bem como "A mulher casada
deve satisfazer o marido na cama, mesmo quando não tem vontade". Esta
perguntas remetem ao machismo patriarcal inerente à nossa cultura de segregação
e poder ao homem - antes apenas o branco - e que este encabeçaria sempre o
norte da sociedade.
Mas note-se que
nem todas as respostas tendem a manutenção desta máxima. Várias mostram uma tendente
mudança neste aspecto, como a afirmação que diz "A mulher que apanha em
casa deve ficar quieta para não prejudicar os filhos", onde 82,1%
discordam total ou parcialmente. Ainda assim mantemos precedentes nas
afirmações "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser
atacadas" que deflagram toda a problemática envolvida da pesquisa (65,1%
concordam total ou parcialmente). Como problemas analisados na abrangência dos
dados, nota-se as afirmação a respeito das afirmações com relação à casais
homoafetivos, onde
A incoerência
da mesma poderia (e como tem sido feito por alguns comentaristas
)
é baseada não em seus dados, mas na divulgação maciça pela imprensa e algumas
deram uma visão limitadíssima da abrangência desta. Assim, o tema acaba se
desvirtuando completamente para “a pesquisa mente ou não?”, o que não se aplica
tendo em vista que ela possui afirmações diretas que procuram facilitar a
compreensão do entrevistado.
E este é outro
aspecto: ela não foi feita com perguntas, mas com afirmações. Este dado, em si,
não representaria muita diferença nos resultados dizer “Se as mulheres
soubessem como se comportar, haveria menos estupros” ou “Você acredita que se
as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros?”, mas lógico
que isso é uma abstração, mas tende-se a pensar assim visto que varias
pesquisas fizeram ambas com a mesma temática e os resultados são iguais (perguntas
da iniciativa My World e sobre satisfação com a vida). Ambas induzem ao mesmo
pensamento, que é a afirmação (como na primeira). Mas se a proposta fosse “Qual
o comportamento ideal (correto) para se evitar o estupro?” a própria temática
poderia ser perdida, visto que a primeira quer verificar o pensamento das
pessoas mediantes afirmações antigas e culturais e a segunda tenderia a ‘buscar’
uma solução no que tange a racionalidade – esta provinda da educação nos anos passados
e atuais – das pessoas. Ou seja, uma quer saber de algo, a outra, de outro.
Dentro de todos
os dados apresentados, é importante salientar as referencias de pesquisa e as
características de os entrevistados, isso demonstra uma importante equiparação
dos dados coletados, em vista que a pesquisa teve sua amalgama a tolerância à
violência contra mulher. O próprio cita que “embora a opção ‘não sabe ou não tinha opinião’ tenha sido registrada
nos casos em que o entrevistado não se decidiu por uma das categorias da escala
de aceitação das frases, foi marcada somente se surgisse espontaneamente como
resposta, isto é, não foi apresentada como uma opção possível”, indicando
que era livre para se abster.
Foi levantado,
inclusive, a eficiência e imparcialidade da entidade. Não é a função deste
texto ir de encontro à esta afirmação, mas de explanar sobre a problemática de
se afirmá-lo como tem sido feito. Sempre será perigoso atuarmos com esta
premissa se não tivermos dados suficientes para sustentá-la. E não nos
esqueçamos que alguém, um grupo ou empresa que já tenha se desfalcado
anteriormente não pode ser o único e nem principal motivo para que hoje se
trabalho seja posto em dúvida apenas pela suas ações passadas. O buraco é
sempre mais em baixo.
Analisar os
dados ajuda a extrair todo o contexto sociocultural nosso hoje e nos propõe
pensar sobre qual nosso patamar hoje, mas não compará-lo visto que a pesquisa
não mostra dados anteriores, possivelmente de anos e décadas atrás. Assim, este
trabalho é sim, importante no que diz respeito à generalização do pensamento
brasileiro com relação a ideários passados. E estes, ao que se percebe, mudaram
em alguns aspectos e em outros vê-se a fobia manter-se. Muitos acham errado
bater na esposa, e que até deve dar cadeia, mas esta deve-se manter fiel ao
paternalismo que este lhe imporá.