segunda-feira, 4 de agosto de 2014

ALEMANHA 102 X BRASIL 0: É FÁCIL ENTENDER



O Brasil tem perdido da Alemanha por 102 a 0. Sim: os germanos já têm 102 prêmios Nobel e o Brasil não tem nenhum (poderia ter tido um Nobel de Literatura, se Getúlio não tivesse negado a cidadania brasileira a Thomas Mann, filho de Júlia Mann, nascida em Paraty, RJ). Bem, o que esperar de um país como o nosso, que se preocupa tanto com estatísticas a ponto de entregar diplomas de Ensino Médio a analfabetos funcionais, e intimidar professores que ousam reprovar alunos que se recusam a estudar? Eu mesmo já recebi uma advertência porque reprovei massivamente uma turma de sétimo ano fundamental. A cagadora de regras da Secretaria de Educação apenas me advertiu, sem me cobrar explicação nenhuma. A minha explicação seria simples: numa turma de 40 alunos, apenas 4 leram os dois primeiros capítulos de "Vidas Secas", de Graciliano, para responder ao questionário proposto valendo nota.

O fato de sermos um país subdesenvolvido fica claro quando ouvimos um ateu discutir com um estudante de terceiro ano do Ensino Médio. Semana passada, eu li um parágrafo de Montaigne em sala de aula, do famoso ensaio "Dos Canibais". A última frase desse ensaio, no qual o filósofo francês elogia os nativos do Brasil, é : "Mas, que diabo, essa gente não usa calças!" A simples pronúncia da palavra "diabo" causou um rebuliço que mostra que estamos diante de uma geração de adolescentes que têm medo até de palavras.

Foi o bastante para que alguém condenasse o livro de Montaigne (o livro é ruim porque tem uma palavra da qual eles não gostam; se fossem coerentes, condenariam a Bíblia também, pois essa palavra também está lá). E começou a Santa Inquisição.

"Você acredita em Deus?"
"Não."
"E no Diabo?"
"Eles são personagens do mesmo livro. Quem não crê em um não crê no outro."
"Você já leu a Bíblia?"
"Inteira."
"Já leu o Apocalipse?"
"Acabo de dizer que li a Bíblia inteira."
"E como você explica que tudo o que o Apocalipse diz está se cumprindo?"
"Tudo o quê?"
"Tudo."
"Dê exemplos."
"As guerras. Olha o que está acontecendo lá em Israel." (Para eles, Israel, que tem o segundo exército mais potente do planeta, é a vítima, enquanto a Palestina, que não tem exército algum, é o algoz.)
"Você já estudou História? Em que momento da História não houve guerras? No século XX, tivemos as Duas Guerras Mundiais, o Vietnã e as duas Guerras do Golfo. Que eu lembre. No século XIX, tivemos a Guerra dos Farrapos, a Guerra do Paraguai, a Guerra do Ópio, a Guerra de Secessão, que eu lembre. No século XVIII, tivemos a Guerra de Independência dos EUA e a Revolução Francesa. No século XVII, a Revolução Inglesa de Cromwell, e várias guerras religiosas com católicos e protestantes se matando. No século XVI, houve o extermínio dos povos nativos da América pelos colonizadores europeus. E quanto mais a gente volta no tempo, a gente encontra relatos de guerras. Nunca houve um único século em que não houvesse guerras."

Este é o retrato de um país subdesenvolvido em que as pessoas vão para a escola para fazer provas, passar de ano e conseguir um diploma, sem imaginar que o que se ensina na escola tenha qualquer utilidade para as suas vidas. Terreno fértil para as superstições repetidas nas igrejas.

Não, não há progresso no Brasil. Marchamos velozes em direção ao passado.

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