sábado, 10 de janeiro de 2015

JOSÉ SARAMAGO


Saramago escreveu dois livros que incomodaram os religiosos. "O Evangelho Segundo Jesus Cristo". As pessoas se irritaram com as cenas em que Jesus e Madalena fazem sexo, embora Saramago tenha se valido de frases do "Cântico dos Cânticos" de Salomão. As pessoas preferem não lembrar que Jesus tinha um pênis e, por isso, foi circuncidado oito dias depois de nascido, como manda a tradição judaica, e, no dia em que foi circuncidado, diz o Evangelho de Lucas, o sacerdote Simeão teria dado glória a Deus por ter visto o Messias antes de morrer. E o povo se irrita que um escritor português tenha escrito uma história em que Jesus utiliza o pênis para alguma coisa que não fosse mijar. E ninguém se lembra que o romance de Saramago termina tristemente com Cristo na cruz, sem ressurreição, e, na hora da morte, ele pede aos homens que perdoem Deus, pois Ele não sabe o que faz.
"Caim" é uma reescrita anárquica do Gênesis. E a última página termina com a destruição total da humanidade. Ou seja: ninguém pode crer naquela história pois, se fosse verdade, não haveria ninguém para escrevê-la nem lê-la. Na versão de Saramago, o anjo se atrasa e cabe a Caim dar uns tabefes em Abraão para que ele não sacrifique Isaac. O narrador fica escandalizado quando Deus manda Abraão sacrificar Isaac, e esse escândalo justifica antecipadamente os tabefes dados por Caim. Sim, eu também me escandalizei quando li o Gênesis. Acho que todo mundo se escandaliza, mas a maioria se cala por conveniência. A maioria não ousa questionar publicamente a Bíblia.
Mas lembrando sempre: ninguém é obrigado a ler José Saramago, da mesma forma que eu não sou obrigado a ler as asneiras que Malafaia escreve nos livros dele.
Mas, graças à Revolução Francesa, que tirou os poderes políticos das igrejas no Ocidente, Saramago não foi condenado à morte.
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